Monday, September 11, 2006

Hasta la muerte, babe.

A ci1vilização me chama. Calor, 40ºC. Chamas, salamandras passeiam sobre/entre concreto, paredes com riscos coloridos ao acaso. A terra, já seca e reduzida ao pó, sobrevoa a vida. Palavras que saem das bocas de dentes cariados e dedos leprosos no cotidiano da metrópole. Sopro quente, homens sufocando com gravatas, mulheres de terninho e mini-saias retocando maquiagem derretida. Mistura de sons, tons. Baixas nuvens poluídas, tudo embaçado.

Sento no meio fio. Abaixo a cabeça e coloco entre as minhas pernas, entrelaço os dedos com os fios do cabelo oleoso, pensando. Merda.

Av. Brasil engarrafada, fulanos fogem da realidade com seus carros de vidros escuros e objetos tecnológicos. Observam-me através de persianas entreabertas. Tiro o creme hidratante de dentro da mochila, e passo um pouco no rosto, massageando, pra refrescar. Será que minha aparência melhorou? Acendo um cigarro barato, despreocupada.

A grana é curta.

É que saí do hospital psiquiátrico às 6:30h. Sozinha, mochila nas costas. Dentro, uma calcinha de algodão cor de rosa com pererecas verdes, um par de meias coloridas, pasta e escova de dentes, um vidro de aspirinas, os óculos escuros e o hidratante.

Trinta e três anos já é uma idade em que a gente precisa começar a pensar, cuidar da saúde e bem-estar. Aparência, coração, taxa de glicose, cultivar amor - não colecionar -, descartar inimigos e etc. Eu faço.

Atrás de mim, a entrada da favela. Becos. Pneus e sofás jogados dentro de um canal. Caos que separa ambientes caóticos. Meninos, faixa etária entre sete e onze anos, mais ou menos, brincam de búlica, nus, na lama de esgoto, e engolem fezes roendo as unhas.

Ao longe, percebo uma janela; a mulher se enforca com a própria echarpe. O amante a observa, distante, com um sorriso de lado, debochado.

La doce muerte.

Um devaneio, acho que não.

Preciso sair daqui, preciso de sexo.

O problema é que você não quer (?) Fui descartada quando me jogou naquele hospício. Mas não é por aí, não me venha com essa, querido. Que venham você, os panos, as mangas e tudo mais. Te digo, agora, que hoje saí de lá com a carta que tirei de uma das mangas da camisa de força. Guardei-a por todo esse tempo. Isso ainda me reserva um espaço à luz do sol, pode crer. Provaremos, de novo, do veneno gostoso. Eu e você, você e eu. Que tal?

É isso que você quer. Pirar.

Já não tenho mais as chaves do apartamento, o carteiro foi avisado pra não entregar correspondência minha. Todos os meus e-mails são direcionados ao seu lixo eletrônico.

Não dou uma trepada há um bom tempo.

No bolso, do lado esquerdo do meu jeans, diferente do seu - essas coisas clichês me enjoam - guardo um pedaço de papel quase que desmanchado; o telefone de uma velha amiga.

Ligo pra ela, e sem dar tempo de dizer olá, ela me pergunta o que mais me agrada no sexo. E eu respondo: chupar, claro.

- Vem pra cá agora.

- Ok.

Quando chegar lá eu pergunto à ela "Por que o homem contemporâneo sofre do desejo da bagaceira de ser um conquistador poeta-maldito-corno feliz-atirador de facas em mulheres de atiradores de facas...? Não seria mais simples viver sem essa crise dos 40 anos eterna, que acomete até garotinhos de 16 anos de idade?”

E resolvo meus assuntos pendentes.

Inté.

Ou,

Hasta la muerte, babe.

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